segunda-feira, janeiro 15, 2007

A riqueza das nações

A Portugal Telecom vendeu a TV Cabo Macau a um grupo que conjuga interesses chineses (tanto de Macau, como da China continental) e a empresa Kong Seng.
O negócio, anunciado ainda nos dias curtos do ano velho, foi a semana passada concretizado, com a telefónica portuguesa a aproveitar o enlevo e a maré para se descartar de outras duas empresas, de menor nomeada, nas quais detinha pequenas participações.
Pelo mesmo caminho parece seguir a Directel, empresa responsável pela publicação em Macau das listagens telefónicas, brancas, rosas, amarelas, de correio electrónico e coisas que tais.
Depois de alienada a TV Cabo (e caso se concretize a venda da Directel), a Portugal Telecom - que os governos portugueses, de todos os feitios e cores rotulam como o mais perfeito caso de sucesso nas estratégias de internacionalização dos interesses económicos portugueses - vê a sua participação no território reduzida aos 28% que o grupo detém na CTM, Companhia de Telecomunicações de Macau.
A um tal património acresce a participação na chinesa CTTC Archway, uma empresa que aposta num segmento de mercado a que a PT não está tão habituada, a do acompanhamento via satélite de veículos e objectos em movimento.
No território, a venda da TV Cabo Macau apesar de entendida como inevitável - dado a empresa ser inviável e sugar dinheiro como uma esponja suga água - é interpretada por muitos como sintomática de que a Portugal Telecom se prepara para desistir das possibilidades de negócio imanentes ao crescimento económico que se tem feito notado por estes lados.
Há mesmo quem pense que a Portugal Telecom não tem pulso para o gigantesco mercado chinês, daí a retirada estratégica e quase total de Macau, com a alienação dos interesses que detinha até agora na RAEM.
Nisto, a PT não pode sequer reclamar para si mesma o ónus da primazia. A telefónica lusa não fez mais que calcorrear os trilhos já percorridos pelo grupo Millenium BCP, que no início do ano passado, alienou os interesses que possuía no Banco Comercial de Macau.
Nestas coisas dos negócios, nem a emotividade, nem o patriotismo são bons conselheiros. Lá diz o povo que "amigos, amigos, negócios à parte".
Ainda assim, tais negociatas são sempre alarmistas e sintomáticas. Da pequenez e da falta de objectividade dos investidores portugueses. Mas também da tacanhez, da falta de tacto e de sentido dos agentes da Républica, como sói por aqui chamar-se-lhe.
Haverá lá tão sulcada contradição quanto por lá ouvir ladrar os políticos que a "a China é que é" e que "a Índia é que era"e ver depois, no terreno, as empresas alçarem pé e baterem em retirada?
A questão é, reconheço-o - estranhamente retórica, de alguém que, como Santo Agostinho, tenta colocar o mar inteiro dentro de um sulco na areia. Nestas coisas dos negócios não se deveria ter a intenção de se ser nacionalista, de gostar de ser ver o vinho português nas prateleiras da China. Mas é isso que perdura cada vez mais. Apenas o vinho português nas pratelerias da China. Estranhamente, Portugal continua a ser o feudo preferido de Adam Smith, porque é da terra ou do mar que advém quase todo o nosso reconhecimento.
Não faltará muito para que Portugal seja de novo e sempre o vinho, o vinagre, as latas de sardinha e ao longe, a raiar o mar, alguns sobreiros, tosquiados de cortiça, de luz e de sombra.

1 Comments:

At 3:26 da tarde, Blogger Movimento Pela Net Mais Barata said...

somos um pais muito sui generis, mas ainda ha quem se preocupe mesmo com as boa praticas e políticas justas, temos de acreditar e trabalhar para isso.

 

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