terça-feira, junho 06, 2006


August Sander. The Artist (Anton Raederscheidt).
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Ícones. Há meia duzia de anos, um professor da faculdade lamentava que em momento algum do processo educativo se ensinasse aos alunos - fossem eles de domínios artísticos, matemáticos, teológicos, científicos ou melindrosamente empíricos - a leitura das imagens. Com avisada experiência e calculada razão, de resto.
Aprendemos o arcabouço e a sonoridade das letras, aprendemos a amalgamá-las em palavras, a verbalizar o mundo em construções textuais enredadas, variadas, complexas. Com os números, os signos e os símbolos matemáticos o mesmo acontece, de forma que se temperamento e génio tivermos para tal, podemos encurtar a mecânica das galáxias à eivada extensão de equações que misturam o mistério dos números e o pulsar do Universo.
A ler as imagens, ninguém nos ensina. Matéria tanto mais premente quanto a evidência de que tudo o que nos rodeia carece de uma interpretação, tanto necessário quanto recorrente. Se aprendemos copiosamente a identificar a utilidade e o propósito dos rectângulos brancos das passadeiras e das passagens de peões, as recomendações implícitas dos semáforos e dos sinais de trânsito, escapa-nos a maior parte das vezes, a intensidade e a intenção subjacente à dimensão trabalhada da imagem que todos os dias até nós chega, ora na televisão, ora no cinema, ora na publicidade, ora na fotografia.
Acabei ontem uma passeata inusitada pela história da fotografia e do rendilhar das imagens com a chancela da Taschen. Uma passeata duplemente agradável: há mais de um mês que não terminava uma leitura (ou por impaciência ou por que mais altos valores sempre se alevantaram). Há muito tempo que não considerava tanto aprender nas páginas de um livro. Segue-se o volume II.