quinta-feira, junho 01, 2006


A diferença é? Se há uma aspecto em Macau em que o consenso se faz notado e a unanimidade germina, esse particular respeita ao foro do turismo e das actividades de promoção turística.
O português Costa Antunes tem conseguido de forma primorosa fazer de Macau um local atractivo e requisitado. Se provas faltassem, os números por elas falariam: são cada vez mais os viandantes - principalmente os da China continental - que procuram Macau como destino de viagem.
A Direcção dos Serviços de Turismo e o próprio Executivo da RAEM têm obrado para que assim seja: as campanhas de promoção da nova realidade de Macau em países e regiões um pouco por todo o mundo têm-se vindo a intensificar, os responsáveis pelo sector parecem sériamente apostados em criar no território as infra-estruturas e as garantias que possam fazer de Macau não apenas um destino de lazer, mas também um destino de negócios . Em 2005 o governo conseguiu ver cumprida uma velha ambição das elites políticas e culturais do território (mesmo as da antiga administração portuguesa): inscrever o centro histórico de MAcau na lista das cidades distinguidas com as benesses e as incumbências das heranças da humanidade.
Outros três factores, não menos importantes, concorrem para o acréscimo da procura em termos turísticos de que Macau tem vindo a ser alvo.
Um, incontornável e decisivo, ganha substância no desenvolvimento notório que a Região Administrativa Especial de Macau ultrapassa desde que em 2002 o governo local decidiu por bem liberalizar o sector do jogo e das actividades recreativas.
É no jogo e tendo em conta o peso do jogo na economia de Macau que a subida do número de visitantes encontra a mais plausível das explicações.
São muitos (cada vez mais) os que vêm a Macau com o intuito exclusivo de deitar as sortes, tarefa ou ambição sobremaneira facilitada por uma outra realidade que não deixa já, ninguém indiferente. O crescimento interno do mercado chinês, o agigantar da economia do milenar Império do Meio e a progressiva liberalização das práticas e costumes associadas a um tal crescimento influi e muito nos índices e na natureza do crescimento do sector turístico avalizado na RAEM.
Naquilo que ao sector do turismo diz respeito, duas são as cartadas chinesas que as autoridades de Macau dificilmente poderiam ver com melhores olhos: a do alargamento da política de concessão de vistos colectivos a uma série generalizada de urbes do continente chinês e a introdução do direito de solicitação de vistos individuais.
O que a Direcção dos Serviços de Turismo de Macau faz é, no fundo, recolher proveitos (com mérito bastante, já aqui foi dito) do melhor de dois mundos: aquele que consubstancia o crescimento da própria região administrativa especial de Macau e o que resulta da expansão do próprio sector: nos últimos anos a indústria do turismo e as manifestações a ela afectas foi a que mais cresceu a nível mundial.
O trabalho da DST tem sido, pois, uma dessas empreitadas que pouco mais se pode fazer que não admirar e aplaudir.
Ainda assim há em tanto método e em tão engendrada estratégia um detalhe ligeiro que, por parecer tão simplista e amador, parece roubar um pouco do brilho aos resultados conseguidos.
O pregão que promove Macau por esse mundo fora sofre de um amadorismo quase ingénuo e de uma lassidão comprometedora. Se é certo que ninguém compra um produto apenas pelo slogan que o designa e que o apresenta, não deixa de ser verdade que um slogan é como que um fato de retórica que concede ao produto um cunho de identidade: se o fato for pobre e o tecido mau, o produto condena-se à não persuasão.
No que ao turismo de Macau diz respeito, o fato não é de todo de má costura, mas é cinzento e formal: da mesma forma que veste Macau, poderia vestir meio mundo.
Dizer que num mundo de diferença, a diferença é Macau (é este o ditame com que Macau se oferece turisticamente) é dizer pouco ou coisa nenhuma. Onde está Macau poderia estar Singapura, Hong Kong, Tel-Aviv, Timbuctu, Kingston, Nunaavut ou Tuvalu. Num mundo de diferenças, qual destes locais não é igual a si mesmo e diferente de todos os outros?
Voltando à imagem do corte e costura, o que Macau necessita é de uma roupagem à medida, algo que esclareça sobre a sua identidade, que ilumine e descreva. Algo que jogue com o entendimento de quem visita e com o coração de quem queira visitar. Porque no que toca a consensos (e não são muitos no que à RAEM diz respeito) poucos serão tão fortes quantos a estranha e difícilmente justíficavel evidência de que, tender and slowly, Macau plays with your heart.

1 Comments:

At 11:17 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Excellent, love it! »

 

Enviar um comentário

<< Home