Die Liebe in Gedanken
Se a fama ou o sucesso se pudessem derimir numa equação matemática, o bom momento do cinema europeu poder-se-ia explicar facilmente pelo sucesso de uma geração de actores do Velho Continente com créditos firmados na sétima arte e facilmente reconhecíveis nos ecrãs das salas de cinema da Europa.
A versatilidade e a amplitude do sucesso teriam um expoente na proporcionalidade de rostos reconhecíveis de filme para filme, de papéis assinalados como magníficos, de enredos supramedianos.
Daniel Bruhl (Good Bye Lenin!) é apenas um dos nomes maiores entre uma legião que integra ícones do cinema europeu como sejam Javier Bardem (Mar Adentro), Audrey Tatou (Les Fabuleux Destins d'Amélie Poulain), Ludivine Sagnier (Swimming Pool), Emmanuelle Béart (Huit Femmes), Mathieu Kassovitz (La Haine), August Diehl (Der Neunte Tag) ou Asia Argento (Viola Bacia Tutti).
Muitos outros haveria a juntar à lista (acrescentar, talvez, o nome do português Nuno Lopes, pelo louvado desempenho em Alice ou o de alguns actores de longa carreira já aclamados), mas para o efeito, o percurso de Daniel Bruhl, jovem actor alemão nascido em Barcelona de mãe espanhola e de pai germânico, basta e sobeja para determinar um exemplo e um caminho para a sétima arte com assinatura europeia.
Bruhl, que está de regresso às salas portuguesas com Joyeux Noel, fez-se conhecido do público europeu com Good Bye Lenin! , o marco miliário de Wolfgang Becker que recuperou o cinema alemão para os catálogos da popularidade cinéfila.
De certa forma, Becker instituiu, com Good Bye Lenin! a visibilidade de uma alternativa ao experimentalismo de Wim Wenders e aos ambientes fantasmáticos de FW Murnau e de Josef von Stenberg, medianizando a filmografia alemã, tornando-a macia e apelativa ao vulgar entusiasta.
Daniel Bruhl foi um dos instrumentos dessa medianização. E se em Good Bye Lenin! o jovem actor ascendeu a um nível de reconhecimento quase hollywoodesco, em Liebe in Gedanken, de Achim Von Borries, Bruhl atinge o clímax numa performance densa, marcada por uma violência emocional que ultrapassa a linha condutora do filme como se de uma brisa se tratasse.
Anárquicos, pessoanos, visionistas. Guenther e Paul são dois jovens estudantes que se convencem que a vida deve ser vivida de acordo com a sua própria intensidade, no limite, sem regras e conveniências.
O que vale para a vida vale para o amor. O destino faz-se sombra num fim-de-semana gasto numa casa de campo, na companhia de Hilde (Anne Marie Muhe), irmã de Guenther. O fascínio de Paul por Hilde é instantâneo, mas há um motor de modernidade e de inconformismo à flor da pele da jovem.
Hilde, amante secreta do antigo amante do irmão, abre as portas à tragédia. Hans, o amante repartido, precipita-a ao aparecer numa festa privada organizada por Guenther para um grupo de amigos. Fora de controle e inebriados por absinto, por álcool brando e por drogas, os quatro protagonistas caminham a passos largos para um destino trágico: o culminar da vida, o culminar do amor.
Violento e cáustico, Liebe in Gedanken não deixa de ser um filme sobre o quanto de amor se faz vida. Duros, implacáveis, devoradores, os oitenta e oito minutos da película colocam o espectador num estado de branda lucidez, com os braços abertos para um precípicio que apetece enrodilhar, sentir fluir por entre os dedos. Torrencial. Como o amor.
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