quarta-feira, janeiro 04, 2006

O Afonso


No catálogo da estiva gastronómica de Macau, o Afonso III reivindica, com mérito e paladar, lugar de emberbigado destaque. Como não há pantagruel que se não faça desejado sem os vapores das travessas e o consentimento dos comensais, a fama do Afonso III toma raíz na revivificação dos sabores de Portugal de uma forma única no território.
À mesa do Afonso não crepita o fogo da saudade, que sempre se faz farta de paladar, a refeição. De tão farta, o tempo sobeja miúdo para os prazeres do repasto, um bife à "marrare", a posta marinada e engolida por bogalhos de pimenta em grão, acidulando o nervo e a fibra da posta messiânica, eivando o estômago de uma fraqueza augada, de uma gula sem melindre.
Espacialmente atascado, as ambiências do restaurante não se dão a manigâncias. Não é sítio onde as pungências do socialmente correcto se façam coercivas e onde a coxa de frango não se erga do raso do prato com a mão ou o a garrafa se dê a uma extinção súbita nos copos diluviados.
Não é também, para sossego de quem assim preza as estâncias da mesa (a meio caminho entre os tapaderos, os chiringuitos, as casas de pasto e o requinte dos restaurantes da moda), uma tasca como a portugalidade a desenha: com charcos de vinhaça desmaculando as toalhas da mesa, papel mata-borrão a servir de máquina registadora, a omnipresença dos bolos de bacalhau, das pataniscas, das iscas de cebolada.
O Afonso é, pois, tasca com alma de visconde. Lugar de anto onde o requinte se faz bruto no que mais importa: os negócios do paladar.

1 Comments:

At 11:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

3f já estou ai... :) bjs doces.

 

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