segunda-feira, outubro 25, 2004

No coração do pulsar


Não está nos escaparates das livrarias e suspeito que quando vier a público lhe seja dado um destaque tão marginal que a própria obra há-de passar incógnita por entre outras e demais incógnitas páginas (e por isso, se calhar, mais válidas). Não é, contudo, por isso que “Para um Novo Paradigma do Saber e do Ser!", de Manuel Sérgio, merece ser lido com atenção.
Numa obra sincrética, quase opúscular, o autor faz a apologia da acção e da vontade enquanto factores anímicos mas essenciais na caracterização do individuo enquanto ser, tendo por base a maturação epistemológica da própria noção de movimento e de motricidade humana (disciplina da qual Manuel Sérgio é, aliás, docente).
Numa obra que perfaz também uma abordagem ontológica à própria intimação da filosofia e do pensamento científico, à conformação que ambos conceberam para o destino do Homem, Sérgio propõe o agir como prolegómeno ao próprio ser.
Se em Descartes, pensar é existir, Sérgio (apoiado na obra e no pensamento de autores tão dissemelhantes quanto Santo Agostinho, Marx ou Ilya Prigogine) concebe o ser como agir: um agir que penetra o reduto da complexidade e que suplanta qualquer definição de conhecimento (qualquer que seja a sua índole) enquanto solução final.
Se a apologia em si mesma conforma uma abordagem pertinentemente positivista da acção e da motricidade humana como reduto de concretização ou de supra concretização do individuo para além daquilo que o individuo organicamente é, o pensamento de Sérgio – sem constituir uma inovação pragmática – tem o ónus de dissimular sob o anátema da evolução filosófica, uma crítica social que não deixa de ser adequada ao presente estado de encoberta estagnação dos valores que é apanágio da modernidade ou da moderna humanidade e em que o paradigma de Manuel Sérgio bem que se poderia resumir a um repto necessário: ser é sempre suceder (se), ser é sempre superar-se.
Nas livrarias dentro de algum tempo, “Para um Novo Paradigma do Saber e do Ser!”, de Manuel Sérgio tem a chancela da Ariadne Editora (Coimbra).

A Ler: Sérgio, Manuel, “Para um Novo Paradigma do Saber e do Ser!”, Ariadne Editora, Coimbra, 2004;