quarta-feira, fevereiro 14, 2007

A vida vai torta


A vida não deve andar grande coisa para Stanley Au. O Presidente do Banco Delta Ásia só não perdeu peso com esta história de faca fria e roupa lavada (roupa e mais alguma coisa) assacada pelos malvados dos norte-americanos à instituição que dirige.
Quando as alegações de que o Banco Delta Ásia lavava capitais norte-coreanos (como quem lava pares de meias) estouraram na praça pública, foi um Stanley Au destroço, aquele que enfrentou o batalhão de jornalistas que foram o seu primeiro coro de jurados.
Nessa noite, há mais de um ano, o presidente do Delta Ásia - culpado ou inocente, não importa - em vez de porta-voz tornou-se delator, no lugar de arauto do banco que dirige vestiu a pele de seu advogado do diabo. Não o fez por sua própria intenção e esse, creio, esteve longe de ser o seu intuito. Nessa noite, Stanley Au suou as estopinhas, transpirou mais que a bica das Fontaínhas em noite de São João.
De certa forma, era um homem culpável e culpabilizado, o que ali falava. Anteontem, o antigo candidato a chefe do Executivo pareceu-me como que uma espécie de Gaudí da banca do território: desengonçado, mal-vestido, apagado, a caspa a branquear-lhe os ombros, no meio da testa o suor delator e nos olhos o mesmo nervosismo que o derrotou há um ano, que o tornou presa fácil de si mesmo.
Vi-o anteontem, ia a noite a meio, no Lau Kei, botecozinho simpático albardado ali nas costas do mamarracho do Grand Lisboa.
Arrepiou-me a ideia de que um homem assim tenha sido um dia candidato a coisa alguma.
Pediu um prato para levar, pagou com uma nota de cem envelhecida e cambaleou, porta-fora, para se perder, sem brilho, na noite da cidade.

1 Comments:

At 2:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

ja mais se endireita...

 

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