terça-feira, julho 03, 2007

Ocean's em Macau

Slots, mesas de jogo, tuxedos e o glamour pastiche dos casinos, uma referência relâmpago a Macau e alguns nomes familiares. O Belllagio, o MGM e o irmão mais velho do Wynn, em quase tudo igual a este que aqui temos (talvez um nada mais liberto), apanhado de relance, muito à pressa, num filme em que abundam negociatas, vendettas e fichas de jogo.
Uma trama pobre, confusa e pouco convincente enfeita o resto do ramalhete sem que se saiba ao certo quem são, afinal, os treze de Daniel Ocean. Treze duros que aparecem agora envelhecidos, menos elásticos e menos convincentes, dimínuidos por um enredo que repte os propósitos da aventura original e só lhes muda os preceitos e o vilão.
Uma trama monocórdica porque sem desvios:não há em todo o filme uma pitada de romance, uma diva que empanturre um pouco a ginastica à engrenagem e faça hesitar um nada ou um ou outro.
Ocean's Eleven, o único quinhão genuíno da trilogia (recriou, recorde-se, um clássico de 1960 em que brilhavam Frank Sinatra, Sammy Davis Jr., Dean Martin, Shirley MacLaine e uma série de outros nomes de alto gabarito) conseguiu ser um filme monumental: bons actores, uma boa trama, uma banda sonora genial.
Ocean's Twelve, se algum mérito teve, foi o de não deixar morrer a pandilha. Recuperou-a num cenário mais do que distinto, contra uma espécie de Arséne Lupin dos tempos modernos. Tirando uma ou outra excepção, nenhuma sequela se consegue alçar para além da notoriedade do primeiro respiro da saga. Ocean's Twelve é um daqueles filmes de digestão fácil, um dos que não enchem nem enjoam.
Com Ocean's Thirteen a coisa muda de figura. Ao perder a noção de que o enredo se desenvolve por caminhos já percorridos, Steven Soderbergh deita a perder o propósito da película.
Numa altura em que Vegas parece perder terreno face a Macau no que aos montantes movimentados diz respeito, parece que Hollywood quis dar um empurrãozinho à cidade do pecado.
Se bem que Las Vegas não seja, bem vistas as coisas, mais que o maior outdoor publicitário do mundo, há no filme uma sucessão de marcas e referências que fazem mais pela cidade norte-americana que aquilo que o mui amador e quase tautológico slogan que trata de promover Macau lá por fora - "Num mundo de diferença, a diferença é Macau"- alguma vez poderá fazer pelo território.