De quem eu gosto
Gosto. Não gosto. Gosto da subtileza das palavras quando se combinam em equações absurdas e suspeitas, quando alguém se aventura a fundir num verso o gelo e o deserto, quando nos levam, as palavras, a onde os olhos não podem, não conseguem, onde os odores e os perfumes se submetem, onde os sentidos amortecem e mesmo o mundo se esquece de si próprio. Gosto das florestas improváveis de árvores infinitas, gosto de me sentir senhor do anel dos teus braços, gosto destas imagens, que são só fileiras de palavras ou palavras enfileiradas e no entanto são tanto e são tudo, o teu cabelo bailando com a maresia ou suspensa de um raio na terna mansidão da manhã despontando. Gosto da brisa soprando e desgosto de quem a tenha por vento fraco. Desgosto de quem desgosta das palavras, de quem não as usa, de quem delas abusa, de quem as maltrata, de quem as mata e muito mais que tudo, gosto de como te amam, as minhas palavras. E de como não te conseguem amar, de como procuram a chave de todas as equações para que não pareçam sempre pequeninas e inócuas por não abarcarem o tudo que és, que me dás e me fazes querer ser...
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