domingo, novembro 28, 2004

Napoleões (de bolso)

Suponho que sou um sujeito comichoso. Há uma série de manifestações no moderno conteúdo "Portugal" que me causam uma urticária de indole quase cerebral, um borboto mental e manifesto. Fico com as ideias tão baralhadas que quase se me escapam as proporções da idoneidade, da aceitabilidade e da amplitude do normal.
Passo a explicar: supostamente Portugal é um país civilizado, democrático, de costumes brandos. Subrepticiamente, é tambem um país de nevralgias públicas. Senão veja-se: há meia dúzia de dias, chegou-me às mãos, com um atraso consideravel um exemplar da "Única" (a revista de mundanidades que acompanha o "Expresso") de 6 de Novembro. Na capa, uma alusão nevoenta ao regresso de Napoleão, com o que parece ser um fotograma retirado a uma produção cinematografica.
Folheando a revista, compreende-se o rotundo equívoco. Afinal, a orquestratura da capa, com Hollywood só tem mesmo a afinidade da parecença. O circo bélico por ali encenado, nas páginas primeiras da dita publicação, não é mais que o capricho fundamental e fundador que tem a pomposa e abjecta denominação de "Associação Napoleónica Portuguesa", agremiação "sui generis" cuja finalidade estrita é promover guerras de brincadeira com orçamentos de milhares de euros. Se é verdade que cada um faz de seu dinheiro aquilo que bem lhe apetece, não deixa de ser um "fétiche" abusivo para um país com tantas disparidades sociais. Capricho corporizado pelos ilustres médicos, advogados e cidadãos que engrossam o contingente de associados da dita confraria Napoleónica.
Mas a peçonha não é nisso que tem origem. É mais na evocação histriónica de um nacionalismo vazio que está imanente a tais encenações bélicas. Dá azo a uma urticária dos diabos, ver um país movido a expensas de glórias e feitos passados. Mais comichoso será julgar que os discursos de exaltação nacional parecem estar na moda. Assassinam o futuro, eu diria.

2 Comments:

At 7:55 da manhã, Anonymous Anónimo said...

e se te fosses procriar. Queres acabar com a desiguladades sociais? Suicida-te, minha berta

 
At 7:55 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Onde se lê berta, leia-se besta.

 

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