sexta-feira, novembro 05, 2004

Regressos

O esplendor da terra, o cinzento do granito envelhecido, o silêncio dos ventos e das nuvens, o verde antigo dos pinheiros, a ausência dos pássaros e dos grilos, o peso da memória.
Ao longe, em serras anónimas que se vão recortando até ao limite do horizonte, serpenteiam como rios negros algumas estradas mínimas e algumas cintilâncias fazem pressentir para além de uma débil cortina nevoenta a existência de aldeias nucleares no amuralhado de montanhas que se alargam para além do que a vista alcança. Aldeias que eram como constelações outrora. Um manual de navegação à prova de falácia e erro, um relógio ou bússola que indicavam a Estrela ou o Caramulo com a mesma infalibilidade com que os cirros acastelados apontam a proximidade da tempestade.
Hoje, contudo, não há uma réstia de nuvens no firmamento: pálido, o sol novembresce como se fora a estrela dos dias grandes da estação, das tardes longas de Junho.
O regresso às vertentes ácidas, às estradas de poeira joeirada que se estendem como uma espinha dorsal ao longo de todo este monte é um regresso às vertentes do ser, às tardes soberbas da infância em que estes montes não eram só montes, eram o mundo também.