sexta-feira, dezembro 24, 2004

Litania a um Natal futuro

Numa casa, num qualquer Belém do mundo,
entre a neve estirada dos telhados,
entre humildes, pobres e abençoados
deixo-me levar pelo pensar ingénuo
de que tudo é Natal, tudo é feliz;
tudo são sorrisos flamejantes numa lareira,
tudo é da paz, ultima bandeira,
tudo é alma e choro de Jesus petiz...

Amansa-me o mel das rabanadas,
embala-me o vapor do bacalhau.

Nada é mal neste dia. Nada é mau.
São tudo beijos e contos de fadas.

Quando, nesta noite mágica
trincarem o peru
e se queixarem de que ele está cru,
engasguem-se e lembrem-se,
que por esse mundo fora,
tendo a lua e a vida embora,
há quem não tenha rabanadas,
nem prendas de fadas,
nem graças ligeiras,
nem o calor das lareiras.

Nem ninguém.

Mesmo em Portugal,
Há quem não tenha Natal.