O Chefe da Comandita
Será que uma família que mora num prédio degradado de Lisboa se pode dar ao luxo de comprar uma vivenda no Brasil? Se não andasse tudo pelos antípodas em Portugal, a resposta óbvia seria o “NÃO” quase imediato ou o consentimento duvidoso, seguido de uma contraposição inibitória, um “com algum esforço e sacrifício” ou um “se optarem pelo endividamento e por alguma falta de bom senso”.
Se não andasse tudo pelos antípodas em Portugal, Sócrates ou qualquer uma das marionetas que ocuparam a valência do poder nos últimos cinco anos ponderariam as necessidades do país, colocando-as acima do compadrio mesquinho que se joga nos bastidores da Assembleia da Republica e optariam por decisões consentâneas não apenas com o carácter que se espera obter de quem comanda, mas mais ainda, com o interesse geral de quem é comandado.
No caso de Sócrates, actual bastonário dos interesses do sector da construção civil, e das holdings dos centros comerciais, bastava que se fizesse realmente primeiro-ministro e que quisesse governar. Afinal, foi com esse sentido que a maioria dos portugueses lhe deu carta branca para operar.
A decisão óbvia que caberia a Sócrates tomar seria a de não vergar, a de fazer daquelas duas primeiras semanas de carácter uma constante, um factor de fiabilidade.
O primeiro-ministro já demonstrou que assim não será. Bateu o pé à função pública, mas sentou, deitou, arfou, fingiu de morto perante os interesses de meia dúzia de patrões e grupos económicos.
No entretanto, metade de Portugal ardeu, a sangria no sector dos têxteis avolumou-se, mais dez mil professores ficaram sem emprego, os doentes e os idosos sem a comparticipação do Estado na compra de medicamentos. Em simultâneo, os preços do petróleo subiram a valores inverosímeis, a dependência energética do país cresce com eles, até níveis quase caricatos. Não fosse o aumento dos combustíveis uma espécie de traulitada final na saúde de um moribundo e apeteceria rir.
De Sócrates seria de se esperar que governasse. Que olhasse para as fragilidades de Portugal e propusesse um bálsamo, que criasse mais valias a partir dos recursos de que o país dispõe, que contribuísse para um pouquinho mais de justiça e porque não (que o idealismo também faz falta), que semeasse alguma esperança no futuro para que metade dos portugueses não queiram usufruir da nacionalidade no exílio, para que não queiram olhar Portugal de fora.
O chefe da comandita (se calhar é abusivo tratar Sócrates por primeiro-ministro, porque o estatuto não vem merecendo as figuras que o vestem) tem, pelo contrário, evidenciado um militantismo arrogante, uma postura que anuncia de forma transparente e líquida aquilo que se pode esperar de quem veste roupa italiana e habita em imóveis de luxo.
A humildade, reconheça-se, nunca foi um grande preceito dos socialistas: do francês do Soares aos penteados do Guterres, do nano-complexo do António Vitorino ao corte italiano de Sócrates, há nos governos PS um certo diletantismo que se reflecte na forma como os governos orientam os instintos da governação.
Se não, veja-se. A tendência para o exercício megalómano do poder no que respeita aos investimentos do Estado esta inscrita quase geneticamente na conduta governativa dos executivos socialistas. Um simples exercício mnemónico coloca a questão do aeroporto da Ota no lugar das contantes dos desígnios socialistas. Sempre que o PS ocupa os gabinetes do Terreiro do Paço desenterra-se o projecto do aeroporto, como novos e mais congruentes dados a albardarem a necessidade absoluta de um projecto gigantesco, capaz de comer metade das finanças empobrecidas do Estado.
Ao aeroporto junta-se agora o TGV como infra-estrutura de primeiríssima necessidade, como desculpa para o relançamento da economia, como forma de criar valências, de acordo com o insosso discurso dos responsáveis da nação.
Pergunto-me de novo se uma família que mora num prédio degradado de Lisboa se pode dar ao luxo de comprar uma vivenda no Brasil. A resposta parece-me óbvia.
Que trâmites e engodos explicam, então, a insistência em tais projectos? Sócrates saberá quais são. E os portugueses saberiam também, caso existisse uma lei do financiamento dos partidos suficientemente transparente para exorcizar determinados rumores, para esclarecer determinadas decisões, para justificar determinadas insistências.
Admito que me deixei enganar. De Sócrates, caramba, esperava que pudesse governar.
Se não andasse tudo pelos antípodas em Portugal, Sócrates ou qualquer uma das marionetas que ocuparam a valência do poder nos últimos cinco anos ponderariam as necessidades do país, colocando-as acima do compadrio mesquinho que se joga nos bastidores da Assembleia da Republica e optariam por decisões consentâneas não apenas com o carácter que se espera obter de quem comanda, mas mais ainda, com o interesse geral de quem é comandado.
No caso de Sócrates, actual bastonário dos interesses do sector da construção civil, e das holdings dos centros comerciais, bastava que se fizesse realmente primeiro-ministro e que quisesse governar. Afinal, foi com esse sentido que a maioria dos portugueses lhe deu carta branca para operar.
A decisão óbvia que caberia a Sócrates tomar seria a de não vergar, a de fazer daquelas duas primeiras semanas de carácter uma constante, um factor de fiabilidade.
O primeiro-ministro já demonstrou que assim não será. Bateu o pé à função pública, mas sentou, deitou, arfou, fingiu de morto perante os interesses de meia dúzia de patrões e grupos económicos.
No entretanto, metade de Portugal ardeu, a sangria no sector dos têxteis avolumou-se, mais dez mil professores ficaram sem emprego, os doentes e os idosos sem a comparticipação do Estado na compra de medicamentos. Em simultâneo, os preços do petróleo subiram a valores inverosímeis, a dependência energética do país cresce com eles, até níveis quase caricatos. Não fosse o aumento dos combustíveis uma espécie de traulitada final na saúde de um moribundo e apeteceria rir.
De Sócrates seria de se esperar que governasse. Que olhasse para as fragilidades de Portugal e propusesse um bálsamo, que criasse mais valias a partir dos recursos de que o país dispõe, que contribuísse para um pouquinho mais de justiça e porque não (que o idealismo também faz falta), que semeasse alguma esperança no futuro para que metade dos portugueses não queiram usufruir da nacionalidade no exílio, para que não queiram olhar Portugal de fora.
O chefe da comandita (se calhar é abusivo tratar Sócrates por primeiro-ministro, porque o estatuto não vem merecendo as figuras que o vestem) tem, pelo contrário, evidenciado um militantismo arrogante, uma postura que anuncia de forma transparente e líquida aquilo que se pode esperar de quem veste roupa italiana e habita em imóveis de luxo.
A humildade, reconheça-se, nunca foi um grande preceito dos socialistas: do francês do Soares aos penteados do Guterres, do nano-complexo do António Vitorino ao corte italiano de Sócrates, há nos governos PS um certo diletantismo que se reflecte na forma como os governos orientam os instintos da governação.
Se não, veja-se. A tendência para o exercício megalómano do poder no que respeita aos investimentos do Estado esta inscrita quase geneticamente na conduta governativa dos executivos socialistas. Um simples exercício mnemónico coloca a questão do aeroporto da Ota no lugar das contantes dos desígnios socialistas. Sempre que o PS ocupa os gabinetes do Terreiro do Paço desenterra-se o projecto do aeroporto, como novos e mais congruentes dados a albardarem a necessidade absoluta de um projecto gigantesco, capaz de comer metade das finanças empobrecidas do Estado.
Ao aeroporto junta-se agora o TGV como infra-estrutura de primeiríssima necessidade, como desculpa para o relançamento da economia, como forma de criar valências, de acordo com o insosso discurso dos responsáveis da nação.
Pergunto-me de novo se uma família que mora num prédio degradado de Lisboa se pode dar ao luxo de comprar uma vivenda no Brasil. A resposta parece-me óbvia.
Que trâmites e engodos explicam, então, a insistência em tais projectos? Sócrates saberá quais são. E os portugueses saberiam também, caso existisse uma lei do financiamento dos partidos suficientemente transparente para exorcizar determinados rumores, para esclarecer determinadas decisões, para justificar determinadas insistências.
Admito que me deixei enganar. De Sócrates, caramba, esperava que pudesse governar.
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