Oriental ao Coração
Daqui, de um canto da China, te escrevo. Como sei que todo o espírito humano se alimenta do fadário incomensurável da aventura, escrevo-te para que saibas também que grande aventura é esta do Oriente. Escrevo-te para que possas sentir também de que diferenças se fazem os dias, quando marginados pelo imenso delta das Pérolas.
E as diferenças são muitas, mais do que aquelas que poderás imaginar. Há em tudo um fulgor imenso de novidade: nos odores que sobem da rua, no néon dos Casinos, nos gestos e nos rostos.
Desembarcar assim, do nada, numa cidade como Macau é nascer de novo ou aportar a uma galáxia mais distante que o entendimento. A maior barreira é, desde logo, a língua: salta à vista e entra pelos ouvidos com a cadência de um tai fung e rodeia-te, como se fora uma fronteira indizível que te remete para uma ignorância diferente das demais.
Não podes em momento algum perceber por completo o imenso mar de gente que Macau é: no quotidiano da cidade são infindáveis os mundos que se entrosam, gente de terras tão exóticas que é impossível que as consigamos conceber mais genuínas num assomo de criatividade.
Macau é, então, um pequeno delta, imenso em pessoas que entram e que saem da exiguidade do território, que jogam a sorte e a vida nas roletas dos casinos, que formigam nas ruas como térmitas, que cozem sob um céu de àcer e de vapor, e assim constroem, numa azáfama irrefreável, uma cidade singular, de padrão e de modelo único. Parece europeia aos olhos, mas é oriental, profundamente oriental para todos os outros sentidos. Oriental ao coração.
O pior de suportar é, ainda assim, a sensação táctil que o calor induz sobre a pele. É a sensação de um réptil sofragando por dentro das veias, de uma caldeira imensa que e sopra um calor de purgatório, uma sauna de vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, com momentos tão brandos e raros de acalmia que chegam a parecer impossíveis, invenções da mente para congelar o corpo no ponto da paciência anterior ao desespero.
De resto, creio que poderias gostar de tudo o mais. O bulício das ruas, apesar do caos, entranha-se com a venialidade do deslumbramento: tudo te parece tão infinitamente novo que é impossível não te julgares rendido a determinada altura. Mas rendido, porém, a um tesouro que se renova a cada minuto na diferença que se faz notar a cada passo, a cada uma das ruas que atravessas.
A comida, o calor, o pensamento. Tudo se processa com uma cadência inusitada, plena de novidade e alguma sordidez, como se deste lado não fossem apenas os caracteres do alfabeto que se escrevem à esquerda morrendo, começando com a direita no horizonte. Tudo parece verter do contrário e marginar numa profusão de novidade. Se há um espelho para a Europa, em costumes e em dinâmica, esse espelho é, sem dúvida, a China.
E as diferenças são muitas, mais do que aquelas que poderás imaginar. Há em tudo um fulgor imenso de novidade: nos odores que sobem da rua, no néon dos Casinos, nos gestos e nos rostos.
Desembarcar assim, do nada, numa cidade como Macau é nascer de novo ou aportar a uma galáxia mais distante que o entendimento. A maior barreira é, desde logo, a língua: salta à vista e entra pelos ouvidos com a cadência de um tai fung e rodeia-te, como se fora uma fronteira indizível que te remete para uma ignorância diferente das demais.
Não podes em momento algum perceber por completo o imenso mar de gente que Macau é: no quotidiano da cidade são infindáveis os mundos que se entrosam, gente de terras tão exóticas que é impossível que as consigamos conceber mais genuínas num assomo de criatividade.
Macau é, então, um pequeno delta, imenso em pessoas que entram e que saem da exiguidade do território, que jogam a sorte e a vida nas roletas dos casinos, que formigam nas ruas como térmitas, que cozem sob um céu de àcer e de vapor, e assim constroem, numa azáfama irrefreável, uma cidade singular, de padrão e de modelo único. Parece europeia aos olhos, mas é oriental, profundamente oriental para todos os outros sentidos. Oriental ao coração.
O pior de suportar é, ainda assim, a sensação táctil que o calor induz sobre a pele. É a sensação de um réptil sofragando por dentro das veias, de uma caldeira imensa que e sopra um calor de purgatório, uma sauna de vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, com momentos tão brandos e raros de acalmia que chegam a parecer impossíveis, invenções da mente para congelar o corpo no ponto da paciência anterior ao desespero.
De resto, creio que poderias gostar de tudo o mais. O bulício das ruas, apesar do caos, entranha-se com a venialidade do deslumbramento: tudo te parece tão infinitamente novo que é impossível não te julgares rendido a determinada altura. Mas rendido, porém, a um tesouro que se renova a cada minuto na diferença que se faz notar a cada passo, a cada uma das ruas que atravessas.
A comida, o calor, o pensamento. Tudo se processa com uma cadência inusitada, plena de novidade e alguma sordidez, como se deste lado não fossem apenas os caracteres do alfabeto que se escrevem à esquerda morrendo, começando com a direita no horizonte. Tudo parece verter do contrário e marginar numa profusão de novidade. Se há um espelho para a Europa, em costumes e em dinâmica, esse espelho é, sem dúvida, a China.
1 Comments:
é sempre bom ler te de novo. Sentir-me levar pela tua escrita. :) M
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