segunda-feira, março 21, 2005

O regresso da chuva

Respingando dos beirais nas horas mortas da madrugada, a chuva tem como que alma própria, é a companhia serena do primeiro sono, embala tanto como o mar calmo.
Subtraída a essa circunstância, a chuva – branda ou forte – é quase sempre incómoda pela impressão que suscita, pelo alagado que causa, pela indisposição em que mergulha o espírito. Se diurna, batendo nas vidraças, é uma prisão líquida que obriga aos entrefolhos do lar, que conduz ao usufruto imposto da modorra que aniquila.
Cai desde ontem com toada certa e com uma macieza insuspeita e reconforta vê-la tombar esparsa mas insistente, com a benesse de um milagre e a suavidade de um suspiro aliviado. Percebo, enfim, a ampla quadratura do amor telúrico. No verde pálido que ganha de novo cor de saúde, na água nascida da pedra e na pedra feita há um equilíbrio em retoma, um traço de normalidade que fazia falta. Sorri de novo a Terra, e eu, escondido por trás da vidraça, não posso estar senão feliz.

3 Comments:

At 12:02 da manhã, Blogger Marisa said...

Tens razão!
Não gosto de chuva mas mesmo assim, vi em mim algo que já não via há bastante tempo. Há quem lhe chame renascer...
Já reparaste que é raro ver alguém nestes dias de guarda-chuva (ou chapéu de chuva, como dizem os da capital) ??

 
At 12:06 da tarde, Blogger cegueira said...

Lluvia, lluvia, lluvia...

 
At 3:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Numa altura em que se fala tanto da escassez da água e em que o Homem tenta controlar a Natureza provocando chuva, chego mesmo a pensar se não será um milagre as gotinhas que caiem do céu...

Já fazia falta! Quanto mais não seja para lavar a alma...

C.

 

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