sábado, janeiro 01, 2005

O ano que hoje entra...

Dois-zero-zero-cinco. Número redondo, portanto. Umas lunetas enfuniladas entre dois traços inflexos, um é quase antónimo do outro no trajeito e na curvatura. Ano encurvado, se calhar. Do mal o menos: somadas as curvas e as albardas sinuosas, o dois ao cinco e o zero ao zero, resulta na balança do dois-zero-zero-cinco, ano e código, a temperança do sete, algarismo pitagóricamente mágico e superior, cordato no mínimo, reconhecidamente equilibrado.
Adepto do sete sou eu, pois então, ou não tivesse eu na pauta da identidade um sete que se repete, sete duplo, uma boa mão ao jogo, uma boa mão na mão do croupier.
Adepto sou eu do sete. Sete eram as maravilhas da antiguidade e as órbitas dos planetas no firmamento inicial. Sete são as cores no espectro da claridade, em todo o esplendor do reino da luz.
Mau é este sete ser fruto de sugestão como é o menino fruto do ventre da Virgem Maria. A mim, convém-me que o ano que hoje entrou tenha um sete algures corporizado, em corpo ou em espirito ou em sugestão. Convém que a sorte mude e como há quem reze que o sete é numero de fortuna...
A casa sete no boletim do totoloto, a cruz na sétima estrela do euromilhões, da fortuna, até hoje só alimentaram angustiantes segundos de ilusão, mas isto de se ter uma mitologia só nossa, uma superstição com força de fé é tão importante como mitigar os sonhos ou adoptar fantasias. Se o meu sete tivesse um rosto e uma capa de organdi flamejada a ouro, acendia-lhe uma vela pela crença e outra pela devoção, uma pela santidade e outra pelo panteísmo.
Mau é, pois, ser o sete um sete sugerido, aritmético. E mau é o ano nascer a um sábado, no saber dos antigos dia governado por um Saturno de temperança indecisa e de justiça maleável. Assim o retratava um avô materno autodidacta das estrelas, timoneiro das tabelas astrais e das páginas dos almanaques. Erudito e crente, no exercício da ruindade um único nome suplantava o de Saturno, de acordo com o seu saber antigo de avô materno. Mercúrio, na mecânica dos planetas, era o mais vil, o mais torpe, o comedor dos próprios filhos. Rimava e arrimava com desgraças e com misérias. Dele, nem beneplácito nem bonança, só o rigor nas catástrofes e nos dramas.
Governado por Saturno, dois-zero-zero-cinco não será brusco nem brando, mas também não se sabe ao certo o que possa ser. Parece-me porém que dois-zero-zero-cinco trás mais do mesmo. É disso que se convence quem já teve nas mãos o verdadeiro almanaque, o Borda d'Água e nenhum mais. Previsões à parte, joy to the world. Um dois-zero-zero-cinco trezentos e sessenta e cinco vezes positivo...