sexta-feira, janeiro 21, 2005

O Elogio da Musa

Despojados de sul
cruzam meus dias os meredianos
da tua mão
e todas as coisas em meu caminho
se libertam.
São penas e asas e cordas,
pistas e plataformas de helicópteros
as tuas impressões
na concepção das horas.

Tomo de ti o potencial da claridade
e a delgada filosofia da existência
expande-se por teus olhos
em arraias de espuma desenvoltos
como um espaço que renasce
e em que se firma a refundação
de quem sou e de quem sei.

Poro a poro, silêncio a silêncio
com a mecânica precisão dos relógios
crias em mim mundos novos
onde perco a errância e vejo,
murchas e sideradas,
todas as flores do mal
como se não fosses outro mais
que a luz concentrada,
um anjo de sal sem divindade
ou a pureza recortada
de um rebanho de virtudes,
imaculadas e eternas,
livres nas vermelhas pastagens
do pensamento.

Quando os meus dedos embarcam
nos interstícios brandos dos teus dedos
sinto em ti fluir toda a metafísica,
a vida em fulgência floresce
nos círculos escondidos da tua pele,
macerados em segredo pela saliva solta
da minha língua que te bebe.
Quando traças os teus dias
com a luz farta da manhã
e me tomas pela mão,
acrescentas aos fados e às guitarras
que me embalam
avenidas de palavras radiosas.

Nesses dias - todos os dias
tudo o que é teu que em mim entra
transforma-se na exaltação da tua plenitude
feita flores de cristal e fogo
feita roteiro das cinzas e do tempo
em que juntos escrevemos
os novos evangelhos sinópticos
do amor
e da carne.

2 Comments:

At 8:53 da tarde, Anonymous Anónimo said...

No teu melhor...quase que me emociono a ler as coisas que escreves assim...

P.

 
At 8:53 da tarde, Anonymous Anónimo said...

No teu melhor...quase que me emociono a ler as coisas que escreves assim...

Patrícia

 

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