quarta-feira, setembro 21, 2005

Carlos V

Carlos V, Óleo sobre Tela, Ticiano, Museu do Prado

Neto dos Reis Católicos de Espanha, Carlos V herdou dos seus pais as possessões espanholas e alemãs que dirigiam, fazendo do império que encabeçava um dos mais grandes do mundo. Lutou contra o avanço do protestantismo na Europa e teve como uma das preocupações mais fundamentais a colonização efectiva dos territórios do novo mundo. À data da sua morte deixou as suas possessões ultramarinas ao filho Filipe II. Dizia-se do seu império que era tão grande que nele nunca se deitava o Sol. Carlos V morreu a 21 de Setembro de 1558.
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O maior e mais versátil dos artistas da Renascença Veneziana, Ticiano excedeu-se a si mesmo e a qualquer dos pintores seus contemporâneos tanto na pintura do retrato quanto na caracterização de cenas de índole religiosa ou mitológica. Nascido na região Dolomítica, Ticiano (Ticiano Vecellio) rumou a Veneza ainda em tenra idade e terá sido aprendiz de um atelier de mosaicistas. Com o horizonte resguardado pela pintura, Ticiano ingressou, antes ainda de juntar forças com Giorgione, no estúdio de Giovanni Bellini.
Depois da morte prematura de Giorgione em 1510, a estrela de Ticiano cresceu de forma avassaladora. Em1511, o pintor foi o escolhido para conduzir uma empreitada em Pádua (onde pintou quase uma centena de frescos) e em 1516 foi apontado como o pintor oficial da Republica Marítima de Veneza.
O estatuto exponenciou a reputação internacional de Ticiano e em pouco tempo começaram a aparecer ofertas de trabalho das aristocracias reinantes de Ferrara, de Urbino e de Mantua.
Por um traço excêntrico de carácter, Ticiano nem sempre aceitava as comissões para as quais era nomeado. O pintor era notoriamente relutante quanto a viagens e deslocações, mas ainda assim existiam patronos a que era impossível dizer não. O mais notório deles terá sido mesmo Carlos V. Depois de um primeiro encontro em 1529, Ticiano foi apontado como o pintor da corte de Carlos V em 1533 e nomeado com o estatuto de conde paladino. Em 1548, Ticiano trabalhou na Corte Imperial de Augsburgo, tendo os seus serviços sido requisitados também pelo sucessor de Carlos V, Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal).
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Ticiano Vecellio aka Ticiano
Nasceu na
Região Dolomítica em 1485
Morreu na Itália em 1576
Movimento: Renascença
Outros Trabalhos: Vénus e Adónis, Baco e Ariadne, Amor Sagrado e Amor Profano
Influências: Bellini e Giorgione

domingo, setembro 18, 2005

Imagens e Ecos

Porque será que as coisas, quando nossas, vistas pelos olhos dos outros se revestem de uma roupagem mais convincente? A Standard Weekend, revista que acompanha a edição de sábado do diário de Hong Kong The Standard dedica três das páginas da edição de ontem ao rumor perfeito e apetecido dos eléctricos de Lisboa, personificados no vagar genuíno com que o 28 se lança à ilharga pelo coração de Lisboa a partir do Martim Moniz.
Barry Hatton, repórter da Associated Press autor da crónica lisboeta, sublinha a centralidade da noção do vagar delicado com que o 28 traça diagonais pelas colinas de Lisboa, ora subindo até ao Largo da Graça, ora regressando ao veio rasgado na topografia de Lisboa que é a Almirante Reis, o Intendente, o Martim Moniz, o Rossio.
Leva noventa anos e muita história transportada, o 28, e é como que uma reminiscência do passado que se faz válida todos os dias. Numa cidade que se quer modera e pressurosa mas que veste com algum incómodo um perfil arquitectónico e urbanístico que se coaduna mais com o passado do que com o futuro, o único rasgo de Lisboa onde persiste ainda alguma genuinidade é no vagar quase adstringente com que os eléctricos de Lisboa vão cruzando as encostas e as praças, à sombra de telhados e de prédios esfarelados que se despenham numa parda ilusão sobre o mar da Palha, sobre o Tejo.
À Lisboa genuína é impossível não remeter outro discurso que não o discurso do elogio. Das calçadas abruptas, das muralhas do castelo, dos miradouros, do rendilhado refinado do casario, da destreza dos olhares que espreitam pelas janelas, da alma da cidade ululando ao vento no estertor dos estendais, do vagar do vinte e oito (um oásis de calma no coração da cidade).
Maria Emilia, reformada, vive hà mais de trinta anos tendo por vizinha a catenária do eléctrico. Raro é o dia em que o 28 não a leva ao coração da cidade.
"Os eléctricos andam carregados de memórias", diz ao repórter britânico.
"Tenho pena que os mais novos andem sempre com tanta pressa. Perde-se muito quando se anda depressa demais", conclui.
Perde-se tudo quando se anda depressa demais. A outra Lisboa, moderna matrona cívica, caudilha dos poderes democráticas e económicos é abominável, castradora, impía, movimenta-se a uma cadência sórdida, dir-se-ia sem um norte definido, procurando parece (descontente) querer ser tudo menos aquilo que ainda vai podendo ser.
A essa, acho que a desprezo. À Lisboa que fez do Bairro Alto um território avant-garde de costumes experimentalistas, de extravagâncias, um palco de desafogo, de escape. A Lisboa que extirpa o resto do país de gente e de valias por nela concentrar o mais das oportunidades (muitas vezes nem boas oportunidades são). A Lisboa autista, que descarrila sobre si própria as necessidades mais prementes e se agiganta à medida em que tudo o mais desvanece. A essa desprezo-a.
Mas desprezá-la não é de todo desprezá-la, percebo agora. É remeter contra a couraça da cidade o desânimo sobre as pessoas, é odiar em sinédoque, tomar o todo pela parte. É culpar Lisboa por um Carrilho ou por um Carmona, pela política conduzida. Pelo recheio do edíficio de São Bento. Pelo desnorte do país.
Lisboa não tem culpa. Lisboa merece mais. Merece sardinheiras nas varandas, uma mão de pintura, roupa nos estendais. Merece crianças nas ruas da Mouraria, bancas de pintores no Rossio e floristas no Martim Moniz. Que a Feira da Ladra perdure, que as colinas se iluminem, que o eléctrico tome devagar, num acto de amor, as encostas da Graça. Lisboa merece que ninguém se esqueça de quem Lisboa é.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Quadros da História

A 16 de Setembro de 1224, São Francisco de Assis recebe os estigmas.

São Francisco de Assis recebe os Estigmas, El Greco, 1577 - 1599, Baltimore Art Museum;

"El Greco", epíteto pelo qual a história tornou imortal o pintor grego Domenikos Theotokopoulos, é um dos criadores mais afamados da centúria de seiscentos. Nascido em Candia, na ilha de Creta (à época sob alçada da républica marítima de Veneza), o pintor começou por pintar ao estilo iconoclasta da arte bizantina antes de se mudar para Itália, onde poderá ter sido aluno do atelier de Ticiano.
Cedo ruma a Toledo, em Espanha, onde se fixa. Os seus primeiros trabalhos denotam a influência bizantina priomordial, mas a permanência em Espanha permite-lhe o desenvolvimento de uma forma de estar na pintura muito própria, com um estilo lúcido e distintivo, caracterizado pela distorção propositada dos canônes da figura humana e pela preferência pelas tonalidades sombrias em detrimento dos registos de luz e de radiância.
Tais aspectos sâo exponenciados de forma solene, quase dramática nos motivos religiosos que pintou e que tornam a sua obra conhecida universalmente. Estão também presentes, tais aspectos, ainda que de forma menos denotada, nos retratos dos seus contemporanêos que El Greco aprimourou.
Inevitavelmente, o estilo desnvolvido pelo pintor foi considerado à época como controverso e pouco ortodoxo. A maior parte dos trabalhos do autor pode ser vista no Museu El Greco, em Toledo, cidade onde o pintor passou os últimos quarenta e quatro anos de vida.

Domenico Theotokopoulos, aka "El Greco"
Nasceu em 1541, em Cândia, Creta.
Morreu em 1614, em Toledo.
Movimento: Escola Espanhola
Influências: Ticiano, Tintoretto
Outros Trabalhos: Cristo na Cruz, O Funeral do Conde Orgaz


terça-feira, setembro 13, 2005

Estranho amor, o português ...

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Este livro tem um mote, o cruzamento, e um denominador, o desencontro. Não é um estudo, nem um ensaio, nem sequer procura racionalizar a génese e a natureza dos sentimentos. Mas lê-lo é ganhar a percepção da resiliência do amor português: muito mais ponto de fuga que de encontro, muito mais dolente que magnânime, tecido com mais ausência do que partilha, urdido com o estigma da perda e muito parcas vezes com a presença torrencial desse fluxo quixotesco que fez o Cavaleiro da Triste Figura pelejar moínhos de vento nas vastidões de La Mancha.
Não é também tão fértil em génio e imaginação, este livro. Mas é um registo plural sobre o lugar e a dimensão que os portugueses concedem ao amor. Longe da sacralização, parece ser um espaço de idealização, uma maçã apetecida mas ainda presa ao Éden, que se faz de gestos comuns, banais, de uma trivialidade quase absorta. Trinta contos (entre eles, este), trinta novos autores. O futuro poderá dizer se serão valores a descobrir no âmbito da literatura portuguesa.

"Cruzamos os Nossos Olhares em Alguma Esquina", V�rios Autores, Coolbooks, 303 pag, 9, 90 euros, na Fnac - Chiado.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Blogosfério (II)

Uma das melhores páginas que se escrevem em Portugal sobre futebol (senão a melhor), um dos bons blogs que resistem e a visão pró-americana de um americano no Iraque. Boa tarde...

domingo, setembro 11, 2005

Blogosfério (I)

Almoço leve, vigens curtas. Uma boa porta de entrada para o entendimento da China, uma página que escava a direito até ao outro lado do espelho, o ponto de encontro do cidadão-jornalista e a nova roupagem do Ponto Média, de António Granado. Boa tarde às coisas aí em baixo...

domingo, setembro 04, 2005

Cinco Pontos



  • 1. O único regresso bom dos últimos tempos, o de Francisco José Viegas, faz-se aqui.
  • 2. Sobre outros retornos, João Miguel Tavares dissecava há meia dúzia de dias no DN, com uma objectividade dolorosa, a superficialidade do projecto de Soares para a presidência. Como no futebol - que votou o país ao contentamento fácil e os portugueses a esperar que as maiores vitórias que se podem ter são a bola entrar seis vezes na baliza do adversário - Soares aposta na vitória da frugalidade: conta para Soares a imagem. O resto, diz João Miguel Tavares, que se lixe.

3. Também do DN, mas num registo diferente, quase a transformar o regresso de Soares em algo menos asqueroso, a direita assanhada ladra. A caravana, essa, vai passando.

4. O reparo de Ana Sá Lopes no "Público" de hoje é precioso. Oxalá o poema se não vire contra o senil do prosador.

5. Este Soares é fixe. O outro? Que se lixe...

sexta-feira, setembro 02, 2005

O Chefe da Comandita


Será que uma família que mora num prédio degradado de Lisboa se pode dar ao luxo de comprar uma vivenda no Brasil? Se não andasse tudo pelos antípodas em Portugal, a resposta óbvia seria o “NÃO” quase imediato ou o consentimento duvidoso, seguido de uma contraposição inibitória, um “com algum esforço e sacrifício” ou um “se optarem pelo endividamento e por alguma falta de bom senso”.
Se não andasse tudo pelos antípodas em Portugal, Sócrates ou qualquer uma das marionetas que ocuparam a valência do poder nos últimos cinco anos ponderariam as necessidades do país, colocando-as acima do compadrio mesquinho que se joga nos bastidores da Assembleia da Republica e optariam por decisões consentâneas não apenas com o carácter que se espera obter de quem comanda, mas mais ainda, com o interesse geral de quem é comandado.
No caso de Sócrates, actual bastonário dos interesses do sector da construção civil, e das holdings dos centros comerciais, bastava que se fizesse realmente primeiro-ministro e que quisesse governar. Afinal, foi com esse sentido que a maioria dos portugueses lhe deu carta branca para operar.
A decisão óbvia que caberia a Sócrates tomar seria a de não vergar, a de fazer daquelas duas primeiras semanas de carácter uma constante, um factor de fiabilidade.
O primeiro-ministro já demonstrou que assim não será. Bateu o pé à função pública, mas sentou, deitou, arfou, fingiu de morto perante os interesses de meia dúzia de patrões e grupos económicos.
No entretanto, metade de Portugal ardeu, a sangria no sector dos têxteis avolumou-se, mais dez mil professores ficaram sem emprego, os doentes e os idosos sem a comparticipação do Estado na compra de medicamentos. Em simultâneo, os preços do petróleo subiram a valores inverosímeis, a dependência energética do país cresce com eles, até níveis quase caricatos. Não fosse o aumento dos combustíveis uma espécie de traulitada final na saúde de um moribundo e apeteceria rir.
De Sócrates seria de se esperar que governasse. Que olhasse para as fragilidades de Portugal e propusesse um bálsamo, que criasse mais valias a partir dos recursos de que o país dispõe, que contribuísse para um pouquinho mais de justiça e porque não (que o idealismo também faz falta), que semeasse alguma esperança no futuro para que metade dos portugueses não queiram usufruir da nacionalidade no exílio, para que não queiram olhar Portugal de fora.
O chefe da comandita (se calhar é abusivo tratar Sócrates por primeiro-ministro, porque o estatuto não vem merecendo as figuras que o vestem) tem, pelo contrário, evidenciado um militantismo arrogante, uma postura que anuncia de forma transparente e líquida aquilo que se pode esperar de quem veste roupa italiana e habita em imóveis de luxo.
A humildade, reconheça-se, nunca foi um grande preceito dos socialistas: do francês do Soares aos penteados do Guterres, do nano-complexo do António Vitorino ao corte italiano de Sócrates, há nos governos PS um certo diletantismo que se reflecte na forma como os governos orientam os instintos da governação.
Se não, veja-se. A tendência para o exercício megalómano do poder no que respeita aos investimentos do Estado esta inscrita quase geneticamente na conduta governativa dos executivos socialistas. Um simples exercício mnemónico coloca a questão do aeroporto da Ota no lugar das contantes dos desígnios socialistas. Sempre que o PS ocupa os gabinetes do Terreiro do Paço desenterra-se o projecto do aeroporto, como novos e mais congruentes dados a albardarem a necessidade absoluta de um projecto gigantesco, capaz de comer metade das finanças empobrecidas do Estado.
Ao aeroporto junta-se agora o TGV como infra-estrutura de primeiríssima necessidade, como desculpa para o relançamento da economia, como forma de criar valências, de acordo com o insosso discurso dos responsáveis da nação.
Pergunto-me de novo se uma família que mora num prédio degradado de Lisboa se pode dar ao luxo de comprar uma vivenda no Brasil. A resposta parece-me óbvia.
Que trâmites e engodos explicam, então, a insistência em tais projectos? Sócrates saberá quais são. E os portugueses saberiam também, caso existisse uma lei do financiamento dos partidos suficientemente transparente para exorcizar determinados rumores, para esclarecer determinadas decisões, para justificar determinadas insistências.
Admito que me deixei enganar. De Sócrates, caramba, esperava que pudesse governar.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Rewind


A história é cíclica. Ou melhor, apresenta-se ao homem em ciclos de tal forma que não é possível que alguém possa dizer com toda a certeza se vive sem experimentar uma grande guerra, sem sentir na pele o fim ou o começo de uma era.
A teoria da rotatividade da história tem um Portugal um laboratório interessante. Que Portugal não se tenha libertado do mesmo sufoco e da mesma aflição providencial que se manifestava há vinte anos, até se percebe dada a especificidade do país, autista de si mesmo, corrupto e megalómano.
Que vinte anos depois os actores políticos no xadrez das grandes decisões do país sejam os mesmos é que não se compreende sem que a lógica não resvale para a mais simples das explicações: a da insanidade geral, começando pela demência e falta de carácter dos interessados.
Se os portugueses não fossem um povo inane e morto, "babaca" como soem dizer os brasileiros, tanto Soares como Cavaco - não tenho dúvidas - seriam jibatados nas urnas. Assim... Que a providência ajude. Uma vez mais.